DUAS VIDAS, UMA CANÇÃO.
O poeta, o cantador, o cancioneiro que tão cedo nos deixou.
Em seu carro, sonado e cansado pelos shows, dormiu...bateu!
Foi um acidente fatal, uma perda irreparável para a cultura...
Pois ele, que foi criança dos morros, subiu e se calou.
Com certeza, seu Pai estava a lhe esperar com sua sanfona.
Entristecido, perguntou ansioso: Você pai? O foi que eu fiz?
Mas ao ver uma orquestra sublime, se perdeu e se espantou.
Soluçou timidamente e disse: Vivi e não tive vergonha de ser feliz!
Sou alguém que canta coisas de uma vida tão cigana...
Diga lá meu coração, conte as histórias das crianças...
Permita-me dormir nas nuvens e viajar no seu aconchego;
Quero cantar quando vir à luz, caminhar em suas andanças.
Pai, é você que está aí a me esperarou é o vô Januário?
Não é seu vô, não, Fio! Sou eu, seu pai, o velho Gonzagão.
Vem comigo, vamos acompanhando a canção, o meu baião!
Vamos fazer musica caseira, vamos cantar mulher rendeira.
É filho, você chegou mais jovem do que eu. Pouco viveu...
Mas nosso Pai maior te chamou porque precisou de você
Ele sabia que você tinha um grande coração, era rapaz letrado;
Com suas canções, batucava num lugar que ninguém vê.
Por aqui, se me seguires, encontrará uma luz muito brilhante.
Vem...vem atrás de mim que eu vou te mostrar algo de valor
É bonito, é grande, cintilante e tem brilho forte, tal diamante.
É a casa onde os raios de sol descansam emanando calor
Viu filho, como tudo é bonito e acolhedor? Você gostou?
É pai, gostei, mas tenho saudades de todos que deixei lá.
Você não sente saudade, meu pai, das pessoas do Sertão?
Sim, mas agora há outra condição. Vem... vem ver o Alazão.
Monto nele e vôo pelo céu e pelas estrelas do firmamento
Elas piscam como árvore de Natal e tem energia sem igual
Não trema, menino! Parece que está com medo... Eu acho!
Saiba que filho do Gonzagão tem que ser cabra macho.
Vem criança, você cresceu, criou barba, mas é menino...
Vem com seu velho aprender o que eu não pude te ensinar
Eu atravessava o Brasil e fazia você estudar, ser formado...
Tive orgulho de ti, mas você endoidou, quis compor, cantar.
Quase te dei uma surra porque largou a profissão, o estudo.
Preferiu ser artista, andar sem rumo, sem hora, sem direção.
Mas depois me acostumei, vi seu sucesso, sua honradez.
E dizia: Esse daí é o meu filho Gonzaguinha, filho que criei!
Pai, sempre quis te seguir. Você que não prestava atenção
Cada vez que tevia cantando, meu coração batia forte.
Eu queria ver Dinda feliz, mas não pude continuar com ela.
Saí em busca do meu sonho, do meu talento, minha sorte.
Hoje sinto que tudo que fiz foram versos e cantos de amor
Encantei pessoas, tive um jeito estúpido de ser, de entender...
Mas a vida lá embaixo é complicada, é difícil de se viver.
Por isso cheguei cedo, pra ficar sempre junto de você.
Me dê cá uma braço, meu velho!
Eu dou, meu filho...
Vamos lá pra ver o seu bisavô?
Mas saiba: Luiz, respeita Januário!
MEG KLOPPER
Enviado por MEG KLOPPER em 02/08/2007
Alterado em 26/10/2007 |