Estou meio anestesiada, mortificada, chateada, magoada, chocada, e tudo de ruim, com o que aconteceu com o RAFAEL MASCARENHAS, filho da atriz Cissa Guimarães e do músico Raul Mascarenhas.
Um jovem de apenas 18 anos, foi vítima de um atropelamento num túnel interditado para obras no Rio de Janeiro. Há muito acompanho o trabalho da Cissa e, por isso mesmo, aprendi a respeitá-la. Quando apresentava o programa Vídeo Show, no auge televisivo, em que tudo era novidade, a Cissa passou a ser mais um membro da família brasileira. Os brasileiros, em sua maioria, adotaram a Cissa Guimarães que sempre surgia com seu sorriso e alegria contagiante. Lembro muito bem de uma matéria feita pela Revista Caras na casa de campo de Cissa, no interior do Rio de Janeiro. Ela falava de sua intimidade, da quietude, do descanso, da educação dos seus filhos, da natureza, do amor, enfim, repartia com a gente um pouco de sua vida pessoal. Naquele lugar ela revigorava suas energias e ficava mais próxima dos seus filhotes, quando podia se manter longe do trabalho e da vida atribulada que possui. Pude sentir que a Cissa, menina, com cara de levada, brincalhona e sorridente, além de uma excelente profissional, seja como repórter, apresentadora ou atriz, era também mãe zelosa e totalmente ligada a sua prole. Hoje, diante do terrível acontecimento, eu choro e me reviro na cama de um lado para o outro, sem qualquer demagogia ou desejando pegar carona em sua fama, porque me coloco em seu lugar de mãe. Triste estou, Cissa! Nem quero imaginar, mas por um segundo, me coloquei em seu lugar e senti a sua dor dentro do meu peito, de maneira forte e dilacerante. O meu filho também se chama Rafael e eu o amo com toda força do meu coração e nada, nada mesmo é superior a esse amor que a gente nem sabe traduzir. Você é pessoa pública, claro. Mas existem muitas outras mães espalhadas pelo Brasil que perdem seus filhos e ficam sedentas da Justiça (em letra maiúscula) que é abafada nos tribunais por mãos corruptas que enlameiam a ética, o pudor, a decência, o caráter e, principalmente a credibilidade dos brasileiros que sentem-se frágeis e indefesos ante do poder público. Um Judiciário fraco, com leis caducas, políticos com olhos voltados ao poder e ao dinheiro fácil, além de um quadro hostil de homens e mulheres despreparados psicologicamente, que incorporam a POLÍCIA do nosso país. Diante da criminalidade que assola a nossa sociedade, não sabemos onde começa o enfraquecimento dos valores morais, sucumbidos pela necessidade material. A polícia ganha salários vergonhosos, são mau equipados e convivem com o terror das drogas e do tráfico que não escolhem cara nem hora para matar, desde que se sintam ameaçados. Homens e mulheres (policiais e membros dos poderes Executivo e Judiciário) que conhecem seus deveres, mas que são abandonados a revelia pelo Estado que não tem como meta principal proteger a vida. Portanto, fazem suas próprias leis e cobram a sociedade pelo trabalho que prestam. É assim que funciona a máquina corruptiva e o descaso para com a instituição chamada FAMÍLIA. São essas criaturas que matam por dinheiro, que escondem corpos, que acobertam bandidos, que abrem celas e que fazem crescer a criminalidade no país, graças as águas imundas e fétidas da impunidade que banham o solo brasileiro e retiram das famílias todos os direitos que o preâmbulo de nossa constituição elenca. Essa tal impunidade que está arraigada a cultura brasileira é a responsável pela morte do Rafael, do João Hélio (que teve seu corpinho de 5 anos arrastado pelas ruas do Rio de Janeiro), do jornalista Tim Lopes da TV Globo que denunciava a prostituição infantil nos morros da cidade maravilhosa, da Eliza, da Mercia, da Irmã Doroty, do Chico Mendes, da Izabella Nardoni, da Professora Geisa no Ônibus 174, de Suzane Richthofen condenada pelas mortes dos pais, enfim, das tantas balas perdidas que encontraram crianças, das famílias sem teto e, pior do que tudo isso, da desesperança. A esperança foi vitimada pelo medo. É o dinheiro dos filhinhos de papai, dos Mauricinhos e das Patricinhas que matam impunemente auxiliados por mãos que, ao invés de acobertarem seus erros com dinheiro, deviam ser mãos que dessem carinho, apontassem o dedo em riste quando necessário e ficassem bem abertas sinalizando um BASTA quando a situação estivesse começando a ficar fora de controle. Na minha infância, eu e meus irmãos tínhamos horário para tudo. Éramos quase uns aquartelados, mas havia disciplina, respeitávamos nossos pais e mesmo depois que levávamos umas palmadas, entendíamos que era para que fossemos educados, porque, ao mesmo tempo, recebíamos muito amor, muito amor... Lembro daquele ditado que diz que ”Pé de galinha não mata pinto”. Mas qualquer onda pega. A língua que é responsável pelos discursos da paz, também é utilizada para os discursos da guerra. As mesmas mãos que acariciam, usam armas e seguram cédulas para comprarem aqueles que se vendem sem qualquer sinal de dignidade que possa freiá-los. Saúde, educação, justiça, segurança e trabalho estão fora do alcance de muitos cidadãos de bem. O próprio Estado invalida seu povo, impondo a desordem, o desespero e o medo que os torna incapazes para luta. Isso é insuportável!!! Até quando vamos ver assassinos como os de Daniela Perez protegidos pelos atenuantes da Lei? Aquela bendita lei caiu, mas existem outras que ainda estão por ai, principalmente protegendo menores que fazem filhos, roubam e matam, mas não podem “pegar cadeia”. Até quando vamos ver jovens como o Rafael dizimados pela máquina corruptiva e pela perda de valores éticos e humanos? Eu, aqui das terras lusas, além-mar, estou com meu coração partido pelo Rafael, jovem de 18 aninhos, por sua mãe Cissa, de quem sou fã, além de estar demasiadamente triste por ver que não apenas o meu país, mas o mundo está se deixando perder pelo verbo TER, rejeitando o amor que os faria conjugar com respeito o Verbo SER. E como diz o Caetano Veloso: “Enquanto os homens exercem seus podres poderes”, a sociedade chafurda na lama da inconsciência do Estado. Só tenho a dizer que ESTOU TRISTE, MUITO TRISTE! MEG KLOPPER
Enviado por MEG KLOPPER em 12/08/2010
Alterado em 12/08/2010 |