Mãe, Adeus de nôvo!
Hoje foi um dia daqueles. Entre mortos e feridos salvaram-se todos ou, quem sabe, quase todos. Acordei cedo, perdi aula na Faculdade, lembrei do vazamento de meu apartamento que inundou a casa da vizinha do andar de baixo e quase não dormi de tanta preocupação. A coisa pior para mim é incomodar alguém, é prejudicar uma pessoa, enfim, é deixar alguém em situação difícil. Bem, na véspera, ou seja, ontem, eu já havia tomado as providências necessárias. Chamei a arquiteta que foi responsável pela obra do apartamento. O Engenheiro que trabalha com ela também veio cedo à minha casa e trouxe com ele o pedreiro, muito bom e amigo, também velho conhecido, humilde e muito competente. Enfim, liguei para minha vizinha, tranquilizei-a e lá pelas 10:00 hrs. os profissionais resolveram quebrar minha suite. Quase chorei de tristeza. Não pelo lado material, mas porque amo minha casa e cada cômodo. Aquele quebra-quebra mais parecia uma agressão. Tudo ficou chato. Num gesto quase surreal eu disse: - Casinha, fique tranqüila que tudo dará certo. Eles não vão te machucar, tá? O pior é que eu ainda não estou recuperada da troca de armários e de uma obra que teve por finalidade consertar uma infiltração causada por um vazamento que afetou os quartos do meu apartamento. Apenas hoje, 21/08/06, às 15:30 horas é que os móveis terminaram de ser montados e o quebra-quebra já estava a todo vapor. Minha casa está como um acampamento cigano...Tudo encaixotado e poeira para todo lado. Além disso, eu e o meu filho, somos alérgicos. Enfim... Provação ou praga de madrinha? Sei lá! Em algum lugar estava meu pensamento. Eu não fixava minha atenção em toda aquela parafernália. Esperava ansiosa por uma ligação e me sentia carente. Até que a ligação chegou e ouvi a voz emocionada de minha irmã do outro lado da linha. Ela disse: Que tristeza, irmã... Estou arrasada e sozinha aqui nesse lugar triste. O corpo de nossa mãe não existe mais... Acabou tudo! Finalmente o novo enterro foi feito. Ela foi exumada. Como minha mãe morreu de repente e de madrugada em sua casa , não nos preocupamos em comprar covas antecipadas. Mas é muito triste tudo isso que acontece no Brasil. Ela havia sido enterrada numa cova temporária, bem cuidada, com flores, com a santinha de sua devoção e com uma placa com sua foto e nossa homenagem. Pena que tivemos que tirá-la de lá e colocá-la em outro lugar. Eu não quis ir. Nego ver os ossos de alguém que tanto amei. Por que é assim no Brasil? Por que dois enterros? Isso é horrível e dói muito! E o pior é que eles retiram apenas três anos depois e se a família não se manifestar os ossos são enviados para o ossuário e você nunca mais resgata. Acabei de ver várias fotos dela e também do meu paizinho que se foi faz sete meses. Como me senti sozinha sem os meus pais e quanto lamentei a falta deles. Em silêncio pedi desculpas por todas as minhas faltas e, em pensamento, manifestei meu grande amor pelos dois. Fiquei muito triste, com saudades em dobro, mas olhei o meu filho, vi a necessidade de minha intervenção na casa para o bem de minha família e, graças a Deus, pude contar com o apoio daquele que está sempre perto de mim em bons ou maus momentos. Agradeço a Deus por isso e peço a Ele que encha minha mãezinha de bênçãos. Quero que ela saiba que eu nunca a esquecerei e que a imagem que quero trazer comigo é a de uma pessoa querida, forte, apaziguadora, amiga, solidária, companheira, guerreira, super mãe e a pessoa que mais respeitei até hoje na terra, pois ela me mostrou valores e me ensinou coisas que levarei para a eternidade. A maior de todas as coisas é o respeito e o amor para com meus semelhantes, além da preservação dos valores morais e sentimentais que estruturam uma família. Mãe, te amo! Pai, te amo também! Acho que mãe e pai nunca deviam morrer, mas sei que estarão sempre vivos em meu coração. OBS.: Na foto acima eu sou a loirinha abraçada à minha madrinha, irmã de minha mãe. Minha mãe está de branco com a minha irmã no colo quando era ainda um bebê. Ah! eu tinha 2 anos e meio. O outro bebê é minha prima Cássia, já com um aninho. MEG KLOPPER
Enviado por MEG KLOPPER em 22/08/2006
Alterado em 22/08/2006 |