Especialmente no Brasil, terra de seguidores dedicados a diversas religiões, seitas, doutrinas, filosofias etc, vemos a união de pessoas que buscam um mundo melhor dentro de si mesmos. E por que? Creio que o mundo está repleto de ações indignas e pouco refletidas. O homem no afã de somar bens materiais, prestígio e poder, se esquece do amor, da solidariedade, do carinho e principalmente do respeito. Devemos atentar mais para a família, palco onde se desenvolve tudo que somos. Deveríamos também nos preocupar mais com os exemplos que deixamos na vida. Lembro-me de quando eu era muito pequena, com meus 8 ou 9 anos, de ver meu avô abrindo e fechando a porta de um armário. Dentro desse armário havia uma caixa de metal azul, com um cadeado externo e parecia uma caixa de ferramentas. Eu sempre curiosa para saber o conteúdo da caixa, não me contive e mandei a pergunta: - Vô, o que é que o senhor tem aí dentro dessa caixa que guarda tanto, que tranca e não deixa ninguém ver? Me respondeu ele: - Mas não há segredo na caixinha, sinhá velha (brincadeira dele comigo). Na caixa existe um tesouro... O maior tesouro que um homem pode ter. Eu fiquei com os olhos arregalados e disse: Hum! E eu posso ver o que tem aí? Ele disse: - Sim, chatinha, falava sorrindo, pode ver sim. (Sempre brincava comigo, mas eu era chatinha mesmo. Enchia o pobre de perguntas). Eu, mais do que rápido, abri a caixinha e vi um monte de papéis. Decepção... Achei que veria colares, pedras preciosas, brincos, anéis, moedas de ouro etc. Nadinha!!! Só havia papel, nada mais. Eu perguntei: - Vô, mas aqui só tem papel? - Sim, é o meu tesouro. - Mas o que é isso, vô? Esses papéis valem ouro? - Valem, filha, valem... - Então eu quero ver! Comecei a ler os papéis e eram papéis do "Ponto Frio Bonzão", "Casas José Silva", "Ducal", "Mesbla", "Sears", "Auto Peças São Jorge", "Materiais de Construção..." enfim, um monte de carta de "BOM CLIENTE". Eu lhe disse, então: - Vô, mas isso aí é algum tesouro por acaso? Eu já estava aborrecida, achando que meu avô estava caduco, mas ele me respondeu: - Sinhá chata, quando damos a nossa palavra, temos que cumprir... Você sabia disso? O Vovô (se referindo a ele mesmo) entrou nessas lojas e comprou muitas coisas a prazo. Fiquei de pagar depois, mas nunca atrasei uma parcela. Paguei todas, muitas vezes com antecedência. Eles gostaram do que o vovô fez e mandaram as cartas elogiosas me convidando para voltar. - Eu sei, vovô, já entendi, mas então você vai ganhar um tesouro? Ele disse: - Eu já ganhei o tesouro. Tenho a consciência em paz, a certeza do dever cumprido e quando eu morrer levarei tudo que aprendi comigo, mas deixarei na lembrança de todos que ficarem a minha dignidade, para que copiem meu exemplo. A dignidade, filha, se divide uma parte para o espíriito que vai para Deus e outra, muito maior, fica aqui na terra na lembrança de todos que conviveram com a gente. Então, quando o vovô morrer, você vai se lembrar e dizer: É... meu vovô era correto, tinha palavra e as pessoas acreditavam nele. Isso, sinhá chata, é o meu maior tesouro...É ter a certeza que será assim. Agora deixa de perguntas e vamos sair daqui. Vá brincar! Naquela época, eu não entendi quase nada. Pensei que o meu avô estivesse doidindo e que estava juntando papel sem importância. Pensei: Isso é coisa de velho! Quando ele morreu, eu tinha 14 anos... Vi minha avó juntando as roupas dele para doar a um asilo e perguntei: - Vovó, cadê a caixa azul do vovô? - Dei para o seu tio guardar as ferramentas que eram do seu avô e ele levou. - Mas, vovó, e o que tinha dentro da caixa, cadê? - Seu tio queimou... Não tinha nenhuma importância. - Mas, vovó, tinha sim, tinha importância sim e eu queria pra mim. Bem, o tempo passou e eu percebi que o que tinha importância havia ficado. Realmente aquelas cartas não tinham importância, mas, em minha memória, eu trazia a lembrança de um grande tesouro que ele me deixou, ou seja, a construção de uma vida correta, digna e que eu deveria seguir. A vida é uma escola. Devemos construi-la com atitudes retas, com moral elevada, com dignidade, deixando nosso bom exemplo para posteridade e para todos aqueles que o Pai nos confiou. MEG KLOPPER
Enviado por MEG KLOPPER em 16/02/2006
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